
Dois Gajos a Falar de Anúncios – e Pandemias – em 2025.
António:
Abro o WhatsInstaBook no meu smarthub holográfico e deparo-me com mais uma frase motivacional (sim, outra praga que durou até hoje). “Não existe passado nem futuro, apenas presente.” – Albert Einstein. É, o Einstein escreveu isto e eu sou o Valter Hugo Mãe. E quanto tempo dura um presente? Há dias em que parece durar uns milésimos de segundo e outros uma eternidade. Como em 2020, em que aquele presente parecia ser o único futuro. Pior: ao fim de três meses fechados em casa, esse mesmo tempo começou a transformar-se progressivamente no nosso (único) passado. A vida fora de casa parecia ter acontecido numa outra qualquer.
Gonçalo:
Mas estamos bem. Já nos abraçamos e beijamos, já vamos de férias para os destinos de sempre e para novos que fomos descobrindo. Até já vamos a festivais (os mais relevantes, os de música) e jogos de futebol.
António:
Sim, vivam os “dates” a álcool gel, os termómetros da Super Bock e as máscaras com palhinha.
Gonçalo:
Ou as do Benfica! Aquele 2020 foi duro, viver uma pandemia global foi tão histórico quanto terrível, mas cá estamos; mais fortes e melhores. O ‘bicho’ trouxe-nos a incerteza da sobrevivência e isso fez-nos questionar o nosso modo de viver. Isso foi bom para todos.
António:
Sim, diria que o melhor de ter passado o COVID foi terem acabado os anúncios em tempos de COVID. Mais um manifesto em cima de “stock footage” e estava pronto para ir lamber a maçaneta de um hospital.
Gonçalo:
Que exagero, pá. Houve coisas bonitas, é só lembrares-te das cantorias à janela começadas em Itália, da valorização que houve em relação aos profissionais de saúde e principalmente de outras profissões consideradas pouco relevantes até então, como os caixas de supermercado. Hoje temos a noção da real importância de todos para que tudo funcione. Mas sim, a relevância importa mais hoje. É muito sobre o que dás e muito menos sobre o que tens. E se não dás nada, perdes relevância e valor. As marcas perceberam isso em 2020 e, como todos nós, foram-se reinventando e adaptando. E destacaram-se as que fizeram para os outros, as que ofereceram algo pertinente, novo, mas também as que souberam estar caladas e não tiraram partido da desgraça.
António:
Sim, as que se limitaram a separar o logo perceberam que a publicidade assente em fórmulas está ligada ao ventilador. Brilharam as que se reinventaram e mostraram nervos de aço, com ou sem Cannes no horizonte.
Gonçalo:
Pois. Mas não podemos parar de comunicar e também não o fizemos em 2020, enquanto indústria criativa e, obviamente, enquanto marcas. Mas silêncio também é comunicação. E naquele momento valeu ouro.
António:
Sim, obviamente. Como em tudo, houve quem tivesse percebido o briefing e houve quem tivesse achado que seria aceitável dar a resposta que todos deram. Nada de novo.
Gonçalo:
Mas desculpável. Olhando para trás, foi um ano duro. Ficar semanas, meses em confinamento, perder o convívio, os abraços e especialmente estando longe da família e dos amigos, foi algo marcante. Aquele ano, agora longínquo, trouxe muita incerteza, mas trouxe-nos algumas coisas positivas.
António:
Esperemos que tenham vindo para ficar. Quais destacarias?
Gonçalo:
Olha, a capacidade de fazer “home office” sem sermos olhados com desconfiança. Deu-nos mais clareza e objetividade na abordagem dos problemas e, principalmente, tornou-nos mais compreensivos e altruístas. E isso tem de significar alguma coisa. Vamos vendo que agora, infelizmente, há pessoas que já se esqueceram, que tentam fazer com que tudo volte ao mesmo, mas é bonito ver que a maioria se recorda, não tem memória curta e mudou realmente comportamentos.
António:
Sem dúvida, ficou também claro que a única coisa que podemos ter é mesmo futuro, ou damos em loucos. E que nos cabe lutar para que seja um melhor para todos. Na publicidade e na vida.
O António e o Gonçalo são dois gajos teimosos e barbudos, que discordam em muita coisa, mas que concordam com aquilo que são boas ideias. As deles andam por aqui: goncaloandantonio.com
Gonçalo Martinho e António Neto
Mensagem de Berlim
linkedin.com/in/goncalomartinho
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Agradecimento de comunicação à Briefing
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