±MAISMENOS±

O mês de outubro fica marcado pelo lançamento de um livro inteiramente dedicado à obra de ±MaisMenos±, o projeto de intervenção artística concebido pelo artista visual Miguel Januário. Para celebrar este lançamento, o Espaço Cápsula será preenchido com peças únicas do artista, incluindo uma seleção de trabalhos inéditos. O lançamento do livro está marcado para o dia 28 de outubro, às 17 horas, na Galeria Underdogs, em Marvila. Este evento é aberto ao público e incluirá uma conversa informal com o artista.

UNIDIGRAZZ

33 minutos. É o tempo que dura a viagem de comboio entre o Rossio, em Lisboa, e a estação de Algueirão-Mem Martins, na Linha de Sintra. Para os artistas do coletivo Unidigrazz, este itinerário faz parte do seu quotidiano desde a infância: apesar de aparentemente curta, a distância entre as duas estações é, simbolicamente, gigantesca. Maiores ainda são as histórias que se podem contar sobre este percurso. Esses mesmos 33 minutos são suficientes para conduzir a narrativas contrastantes destinadas a cenários totalmente desiguais.

O que se chama de "periferia" e "centro" está nos olhos de quem vê. Aqueles que estão geograficamente localizados nas margens são os desafiados pela segregação. A distância está no direito de ocupar a cidade, está na construção estereotipada do "outro". Na sua primeira exposição individual, Distante, a Unidigrazz confirma, evidencia e questiona a desigualdade. Do acesso à mobilidade, cultura, educação, habitação e documentação, à violência policial e ao racismo. Falam do abismo entre realidades diferentes do ponto de vista do cidadão, literalmente posto de lado, silenciado e oprimido durante gerações. E, também, do ponto de vista dos artistas que, juntos, representam um coletivo que pretende tornar mais forte a visibilidade e a positividade da produção artística feita na Linha de Sintra, em contraste com o imaginário muitas vezes cinzento que se pode forjar sobre este lugar.

Construção comum na região, a marquise ocupa o centro da exposição como um lugar literal de fala. Representa a vivência da casa na periferia, a intimidade e a vida familiar, mas também a zona intermediária entre o ambiente doméstico e a rua. É o espaço típico onde se estende a roupa, se guardam os bens, se estuda, mas também a solução arquitetónica possível para tentar alargar o espaço exíguo das casas. Nesta exposição, a instalação Marquizz apresenta várias pinturas que, à semelhança das janelas, possibilitam um olhar sobre o quotidiano dos indivíduos que circulam na Linha de Sintra. Na perspetiva da Unidigrazz, estes passam a habitar o cubo branco - se não fisicamente, pelo menos como referências para as peças.

Aqui, os azulejos industriais que frequentemente decoram muitas destas marquises são recriados à mão, desconstruindo a noção de padrão e de equivalência ligada às peças cerâmicas tradicionais. Pintados a várias mãos, os azulejos evidenciam a autenticidade, a diversidade e a assimetria dos seus próprios criadores, mas também daqueles que os inspiram. Com pinturas em papel, tecido e tela, bem como manifestações multidisciplinares, os artistas Diogo "Gazella" Carvalho, Onun Trigueiros, Tristany, Sepher AWK e Rappepa Bedju Tempu têm vindo a combinar, desde 2018, as suas práticas artísticas no caminho para ocupar lugares cada vez mais distantes da sua própria realidade. Eles disseminam não apenas uma, mas várias versões de como é essa realidade.

Nas palavras dos artistas: "Unidigrazz é uma consequência, uma continuação de algo [que já existe]; do trabalho de rappers de rua, escritores, poetas, de mães em todo o lado. A arte feita pelo coletivo relata uma época que se viveu ou que se está a viver, através do ver e do criar de quem vive essa realidade. É mais do que o mundo artístico. É o que eles vêem e experimentam".

- Julia Flamingo

font: site Underdogs