
O Lux Frágil apresenta FACA CATANA CANIVETE, a primeira exposição de pintura de Diogo Potes, artista e designer lisboeta cuja linguagem visual moldou, durante mais de duas décadas, a identidade da casa — patrona das artes na sua essência e origem. Com curadoria do Lux Frágil, esta mostra inaugura um novo ciclo na trajetória do artista: não uma rutura, mas uma continuação natural de uma gramática visual e emocional que, numa nova plasticidade, vem imprimir uma recompensada visceralidade de composição, simbologia e humor a um corpo de trabalho que se manifesta em tela e ambiente sonoro — no interior do clube que o acolhe, então, como galeria.
Reunindo vinte obras inéditas, FACA CATANA CANIVETE transpõe para o óleo sobre tela a energia punk, o olhar autoral e a tensão entre controlo e instinto que sempre definiram o trabalho de Potes. As telas são íntimas e sarcásticas, densas e frágeis — como se o artista transformasse em matéria e gesto a pulsação que antes se expressava em tipografia e grelha.
Neste novo ecossistema, de monstruosidades e fragmentos de memória passada e presente, Potes parte do desenho e da cor como extensão natural do design, mas liberta-os da função.
Liberta-se a si mesmo, num bestiário onde as figuras e criaturas que habitam estas telas parecem suspensas, texturizadas entre o sonho e uma fragmentada porção do real: há cavalos que regressam como símbolos de anseio e travessia, golfinhos que emergem como veículos de fuga e olhos que permanecem abertos por um segundo a mais, entre a ternura e o desconforto de uma viagem simbólica que já ocupou o lugar de paisagem sonora para o Lux, como pano de fundo.
A narrativa da exposição é também coral: quatro vozes que se cruzam, vindas de diferentes territórios — o olhar crítico, o olhar musical, o olhar curatorial e o olhar do próprio espaço que o viu crescer. Os textos de Frederico Duarte, Quim Albergaria, Ana Castanho, e Pedro Fradique não acompanham a exposição como notas de rodapé, mas como extensões do mesmo gesto. Cada um lê o artista a partir do seu território — o design, a noite, a pintura e a amizade — compondo um retrato plural de um criador em transformação.
FACA CATANA CANIVETE é, assim, o prolongamento de um gesto que acompanha o Lux desde 2002 — o gesto de quem transforma identidade em linguagem, linguagem em emoção e emoção em matéria. O mesmo rigor formal e a mesma pulsação visual que marcaram o seu trabalho como designer ressurgem agora em camadas pictóricas, onde o design se converte em respiração e o olhar em matéria. As telas revelam uma continuidade íntima, mas também um recomeço: um artista que se volta para dentro e encontra, na pintura, a forma mais silenciosa e radical de se expor.
Texto por Filipa Galvão _ A Magazine



