"O significado não é estável e, sobretudo, imanente. Não é, portanto, uma proposição imaculada, a salvo de ferida, e menos é, antes de tudo, uma preposição insuspeita, isentada de dúvida. É esta experiência, esta tomada de consciência, que Arturo Comas nos propõe na sua primeira exposição individual em Portugal.

Como duvidar, então, de que, nesta exposição, estamos na presença de cadeiras? Ou melhor, como duvidar de que estamos, seguramente, perante uma cadeira específica – A Cadeira –, tal qual nos é indicado pelo sintagma nominativo que constitui o seu título, e que a representa, que nos aponta o que vamos encontrar? Ou ainda, como duvidar de que estamos, presumivelmente, diante de representações múltiplas desta cadeira particular, da única, da original, ainda que não a encontremos?

Conduzindo-nos para um campo movediço entre signo e significado, substância e acidente, modelo e representação, Arturo Comas corrói as relações correntes entre as palavras e as coisas, entre as palavras e as imagens, infiltrando-se nesta mecânica, operando através da perplexidade, do absurdo, da instabilidade, da desorientação que encontramos como denominador no seu corpo de trabalho.

Podemos considerar que os interesses e preocupações que alimentam a obra de Arturo Comas são despertados pela noção foucauldiana de dispositif. Em A Cadeira, são tanto as convenções de sentido detido pela palavra como os discursos da representação visual que Arturo Comas boicota, mostrando-nos que o significado é fenomenológico, emerge na experiência em si. Nesta exposição, estamos neste campo entre, onde tudo é movimento, tudo muda, como nos diz Heraclito."

Texto de Ricardo Escarduça

OPENING 5.05.2023  | 6 PM
GALERIA NAVE
Travessa do Noronha, 11B
1250-168 Lisboa

Meaning is not stable and, most importantly, not immanent. It is not, therefore, an immaculate proposition, safe from wound, and least it is, before anything else, an unsuspected preposition, exempted from doubt. It is this experience, this awareness, that Arturo Comas proposes in his first solo exhibition in Portugal.

How can we doubt, then, that, in this exhibition, we are in the presence of chairs? Or rather, how can we doubt that we are certainly facing a specific chair – A Cadeira (The chair) – as indicated to us by the nominative syntagma that constitutes its title, and that represents it, that points us to what we are going to find? Or again, how can we doubt that we are, presumably, facing multiple representations of this particular chair, of the unique, of the original, even if we do not find it?

Leading us into a shifting field between sign and meaning, substance and accident, model and representation, Arturo Comas erodes the current relations between words and things, between words and images, infiltrating this mechanics, operating through perplexity, absurdity, instability, disorientation that we find as a denominator in his body of work.

We may consider that the interests and concerns that nourish the work of Arturo Comas are aroused by the Foucauldiannotion of dispositif. In A Cadeira (The chair), it is the conventions of meaning held by the word inasmuch as the discourses of visual representation that Arturo Comas boycotts, showing us that meaning is phenomenological, it emerges from experience itself. In this exhibition, we find ourselves in this field of in-betweenness, where everything is movement, everything changes, as Heraclitus tells us.

Text by Ricardo Escarduça