
Depois de concertos programados um pouco por todo o país, o Colectivo Casa
Amarela (CCA) ocupa a RG6 durante uma temporada, uma vez por mês. O contexto é
desafiante – distanciamento social, gel, lotações limitadíssimas e horários
complicados. Perfeito. O foco é apresentar o melhor do que se ouve por cá (e
pelos bandcamps e soundclouds desta vida), promovendo estreias, colaborações
inusitadas e twists inesperados a nomes de sempre.
Sempre aos sábados, ao final do dia. Pela hora de jantar. De preferência em
jejum.
Colectivo Casa Amarela convida Aires
Figura meio omnipresente no circuito musical lisboeta, Aires soma e segue num
percurso merecedor de atenção. Além de músico, é um agitador de águas, tendo
co-fundado o Colectivo Casa Amarela, entidade editorial com um espólio
francamente prometedor de visão. Também faz parte dos projectos Fashion
Eternal, Peak Bleak, Scolari e Hot Dancerzzz. Esta constância de energia em
fluxo materializa-se agora num novo álbum, mais uma peça chave para melhor
entender as buscas sonoras de Bruno Pereira enquanto Aires.
Chains of Silver, Chains of Gold parte de um conjunto hipotético de questões: “How many different shades of red there are? How many different drones can one
extract from a single melody? Or from a single note? How many colours can one remember from a single memory? How long can a feeling last?”. Tudo inquietações naturais de quem opera sobre momentos capsulados em si,
encontrando filigranas e esculpindo o som em diversas escalas e expressões. E
Aires tem demonstrado que esse caminho não só é surpreendente, como se trata
de algo, aparentemente, infinito – ou, pelo menos, cujo limite se expande a
cada vez que se dá mais um passo adiante.
É pela mão da pequena, mas valiosa, editora finlandesa World Canvas, que este
disco ganha forma. Composto por duas longas peças, e duas respectivas
remisturas, Chains of Silver, Chains of Gold, oferece-nos a sensação de uma
libertação lenta, como quem se deixa para trás o peso e a velocidade voraz do
quotidiano. Existe uma real dinâmica na aparente luz estática que ilumina as
paisagens rochosas desta música. As reinterpretações de Vanity Productions (da
igualmente importante Posh Isolation) e de Romance Relic (precisamente da
World Canvas), entrelaçam-se numa harmonia familiar, fazendo quase esquecer
que estas são assinaturas externas do que antes escutamos. Um quadro completo
de encontro e compromisso, capaz de saltar dentro da sua própria tela.
Músico madeirense no activo sob diferentes pseudónimos e um dos
cabecilhas do Colectivo Casa Amarela. Como Aires, a sua estreia nos
discos deu-se em 2014 com o lançamento do álbum homónimo pela editora
portuguesa Enough Records. Desde então colaborou com várias editoras,
como a Genot Centre e a Bad Panda Records, até se focar na sua Casa
Amarela, que partilha com a artista Mafalda Melim, com quem faz a
curadoria do ciclo Jejum na Rua das Gaivotas 6.
Actualmente, o seu trabalho reflecte um tema que se tornou central em
todo o projecto: a efemeridade e a qualidade espectral das relações na
era digital. Em 2021 editou o EP 'Daylight Fireworks, pela ZABRA, e o
EP ‘Chains of Silver, Chains of Gold’, pela finlandesa World Canvas.
Estes são trabalhos sobre a aceitação inevitável da efemeridade, sobre
a distância e as ilusões modernas que usamos para escondê-la.
COLECTIVO CASA AMARELA
O Colectivo Casa Amarela (CCA) começou em 2014 como um colectivo a
quatro – Bruno, Mafalda, Nelson e Rui. Restam apenas os dois primeiros.
A Mafalda Melim trata de toda a vertente visual, o Bruno Pereira
programa uns concertos e lança uns discos – alguns são dele, outros são
colaborações escolhidas a dedo. Micro-editora e promotora com um foco
especial em música electrónica experimental.
Concerto
22 de janeiro, 2022 | 20H | 75 MIN | M6
Bilhete: 5€ (preço único)
Bilheteira online: https://ruadasgaivotas6.admira.b6.pt/pos/event/list
reservas@ruadasgaivotas6.pt +351 925 406 223
+ info: ruadasgaivotas6.pt
