O fotógrafo Mário Cruz e a NARRATIVA encomendaram o design do livro ROOF com o objetivo de dar forma editorial ao seu mais recente trabalho. 
Desenvolvido ao longo de uma década (2013–2023), o projeto fotográfico mostra de forma crua o lado escondido da crise da habitação em Lisboa, revelando uma realidade muitas vezes invisibilizada. Com total liberdade criativa, o pedido visava transformar esta reportagem fotográfica em uma denúncia visual da violação de um direito fundamental: o direito à habitação.
A ideia da peça nasceu da vontade de apresentar ao público algo que remetesse à realidade de quem vive em espaços abandonados e precários. 
A escolha dos formatos, materiais e acabamentos procura traduzir essa condição — tanto no olhar quanto no toque.
O livro chega selado dentro de uma caixa preta, que precisa ser rasgada para ser aberta. Este gesto é uma metáfora direta: tal como as pessoas retratadas em ROOF, é preciso quebrar, forçar, arrombar para aceder a um abrigo. É um ato de transgressão, mas também de necessidade.
Dentro da caixa, encontram-se os quatro tomos que compõem o projeto:
O livro reúne 70 fotografias. A sua forma deliberadamente inacabada — sem capa ou outras informações — reflete o conteúdo cru que apresenta.
O caderno, impresso com tinta prateada sobre retratos em negativo, reúne 22 imagens que evocam a invisibilidade de quem sofre as consequências extremas da crise da habitação. São pessoas que não vivem na rua, não se enquadram nas estatísticas de sem-abrigo, mas que, mesmo com trabalho fixo, não conseguem pagar uma casa digna.
O desdobrável propõe um percurso visual que conduz até a entrada de um espaço abandonado — semelhante àqueles ocupados pelas pessoas retratadas no projeto.
O jornal reúne o ensaio de Sebastião Almeida, entre recortes de manchetes da imprensa sobre o agravamento da crise da habitação, e o primeiro ponto do artigo 65.º da Constituição da República Portuguesa — base e inspiração para ROOF.
O lançamento do livro ROOF deu origem a uma exposição imersiva no antigo Recolhimento das Merceeiras, um edifício devoluto situado ao lado da Sé de Lisboa, numa zona marcada pelo predomínio do alojamento local. Inaugurada a 27 de abril de 2024, no contexto das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, a exposição esteve patente até 9 de junho e recebeu mais de 2.500 visitantes.
A edição em português do livro esgotou rapidamente, impulsionada também pela ampla cobertura mediática nacional, que incluiu a SIC Notícias, Visão, Público, Time Out Lisboa, Rádio TSF, Renascença, entre outros. O P3 do jornal Público destacou ROOF entre os melhores fotolivros de 2024.
No plano internacional, o livro ROOF foi salientado pelo diário espanhol El País, que o descreveu como “um exercício de poesia visual que, na verdade, é um acerto de contas com um dos grandes assuntos inacabados da democracia portuguesa”.
A edição em inglês conseguiu ser distribuída pela editora FotoEvidence, especializada em fotografia documental dedicada à justiça social e aos direitos humanos. O livro foi apresentado no prestigiado Festival Rencontres d’Arles, em França, entre os dias 2 e 5 de julho de 2025, com uma palestra e uma sessão de autógrafos.
ROOF foi ainda distinguido com o Prémio Luis Valtueña de Fotografia Humanitária, acompanhando as respetivas exposições em Madrid (31 de janeiro a 1 de março de 2025) e em Barcelona (3 de abril a 17 de maio de 2025).
Importa referir que, felizmente, algumas das pessoas retratadas ao longo dos anos conseguiram resolver a sua situação habitacional. No entanto, a maioria continua a enfrentar as mesmas dificuldades. Daí a importância do livro — para que a fotografia não seja efémera, e para que a memória destas vidas possa ser partilhada, com responsabilidade e continuidade.